Nestes tempos em que a felicidade
é quase uma obrigação, a dor é a grande vilã. Vivemos sob a pressão de sermos
sempre felizes, de buscar a felicidade a todo custo, de sair do sofrimento o
quanto antes e de, de preferência, fazer o que for possível para não sofrermos.
Diariamente somos alimentados com ideias errôneas sobre a felicidade, com o
ledo engano de que é possível ser feliz sem passar pelo crivo da dor.
O que tenho percebido é que de
tanto buscarmos ser felizes vamos alimentando atitudes egoísticas e
condicionadas. O nosso eu precisa estar sorrindo, a dor não tem lugar e vamos
condicionando e protelando nossa felicidade diariamente para quando encontrar
um amor, quando encontrar um bom emprego, quando a faculdade acabar, quando for
promovido, quando não sofrer mais...
Entretanto esquecemo-nos de que a
dor edifica, educa, e nos prepara para a felicidade. Aceitar que sofrer tem um
papel imprescindível na construção da nossa força já é ser feliz, pois o peso
da dor não existe, ela dói, mas tem um fim, um propósito que edifica, que não
esmaga e corrói o que há de leve em nós. Aceitar a dor já é ser feliz. Mas não
quero com isso incentivar atitudes masoquistas de se auto-infligir dor, mas
compreendê-la, quando surge, por outro ângulo, como parte do processo.
Posicionarmo-nos diferentemente
diante da dor modifica o olhar diante da vida e de nós mesmos, pois passamos a
compreender que há momentos sim de tristeza, nos quais não podemos nos deixar
afundar, mas pelos quais devemos passar respeitosamente, como por aquele santuário
que para ser visitado é preciso ter pés descalços e mente sã. Assim, poderemos
talvez olhar mais manso para a vida e ver que há beleza nos sorrisos e nas
angústias, nos mares calmos que enfeitam nossos olhos e nos turbulentos que
limpam as águas para que o amanhã seja de águas calmas, cristalinas e de sol a pino.
“É preciso estar tranquilo para
se olhar dentro do espelho e refletir o que é...”
(Toni Garrido).
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