O que sei é que ela aconteceu muito antes de nos encontrarmos e que, sem nunca termos nos visto, já sabíamos que seríamos nós. E ao nos encontrarmos tudo foi cabendo direitinho, o sapato, o abraço, o sorriso, as mãos.
Nosso encontro foi de um brilho tão intenso que aquilo que já não nos cabia foi lançado à margem, à sombra de tanta luz para dar espaço ao que realmente importava e valia à pena. Roupas rotas, móveis gastos, gentes rasas, foram todos ficando no caminho enquanto construíamos nosso ninho repleto de paz.
Não houve peso. Não houve escuridão. Não houve adeus. Houve sim a vontade de eliminar os espaços de distância geográfica e o fizemos. Houve sim o desejo de dormir lado a lado, envolvidos pelo abraço, pela paz que o olhar, que o outro traz e o fizemos.
E cá estamos nós a construir os sonhos diários, a mirar o mundo inteiro do nosso recanto de luz.
A cada dia firma-se em nós a leveza de saber que temos a nós, a delicadeza de saber que temos um cantinho no olhar, no abraço, no colo um do outro onde podemos SER integralmente "pacote completo", qualidades e defeitos, força e fragilidade e tudo bem.
Temos descoberto algo do amor que os livros não contaram: que o amor vem e nos faz rir, ficar em paz, iluminar os espaços, mas também chorar e doer e relutar, porém, por ser amor, essa parte dura o tempo suficiente para nos edificar, para refletirmos, para ficarmos mais serenos.
O interessante é que viver o amor a dois nos ensina que não somos o que somos e pronto. Somos o que somos e precisamos nos refazer diariamente, pois somos a dois agora e os desejos egoísticos de outrora não cabem no plural deste instante.
